Texto: "O besouro doente". (Maria da Graça Almeida)



8 de fevereiro de 2014


Leia o texto buscando dar através da vos a intencionalidade, as entonações, o ritmo e a musicalidade expressada através do texto. Muito bom!



Maria da Graça Almeida 

Na casa da dona besoura, 
tudo era agitação, 
o besouro de lá para cá, 
quase afundava o chão, 
pois a besoura esperava, 
seus primeiros bebês
Sentia algo estranho 
e nem bem sabia o quê... 

Já havia feito a cama 
e estava de pijama! 
A casa toda florida, 
na mesa, tanta comida! 


E, justo, naquela hora, 
a chuva caía lá fora. 
Mamãe pertinho do berço, 
parada, rezava o terço! 

Enfim, chegaram os bebês! 
Sentiram frio ao nascer... 
Tanta chuva umedecia 
o bercinho onde dormiam. 

Os pais preocupados, 
com os pingos que caíam, 
deitaram-se sobre eles, 
cobrindo-os como podiam! 

O vento espiando a cena, 
teve deles muita pena! 
Soprou alto, soprou forte, 
mandou a chuva pro norte! 


Enfim, pôde o casal 
receber suas visitas, 
que trouxeram mil presentes, 
com rendas, laços e fitas! 

Dona abelha entrou na casa, 
trazendo favos de mel, 
os quais carregava nas asas 
finas, feito papel! 

Cumprimentou-os com jeito 
e então, diante do leito, 
ficou um tanto sem graça, 
dizendo com muito respeito: 

- Não os quero preocupar 
mas, acabo de notar 
um bebê muito doente, 
todo pintado e quente! 

Surpresa, descontente, 
vira-se a mãe agitada: 
-Há um bebê bem doente? 
Deus! E eu nem percebi! 
Nem mesmo quando, com jeito, 
coloquei-os no berço e os cobri... 


Vendo a mãe tão aflita, 
a abelha quis acalmá-la: 
- Não, mamãezinha besoura, 
no bebê há algumas pintas, 
porém, não são muitas delas, 
contei-as... há menos de trinta! 



Chamaram nesse momento, 
o Doutor que veio contente, 
mas, desistiram em tempo, 
pra proteger o doente! 

O médico era um pombo 
que sempre engolia insetos, 
assim, não o puderam deixar 
nem mesmo chegar muito perto! 


Pensaram na borboleta, 
que já cuidara da vespa: 
- Venha amiguinha preta, 
precisamos de você! 
Venha logo e nos ajude 
a salvar nosso bebê! 



Voando em linha reta, 
atendeu com muita pressa 
pedido dos besouros 
que mimavam seu tesouro! 

Olhando para os filhotes, 
disse muito preocupada: 
- Acho que este do canto, 
apanhou forte sarampo! 



Assustado, o beija-flor, 
quando o viu, perdeu a cor! 
- Não! Esse aí tem catapora! 
Até logo, vou-me embora! 


Guloso, veio o sapo, 
pensando em botá-lo no papo 
mas, vendo as pintas vermelhas, 
quase teve tremedeira! 
- O besouro magricela, 
este, nasceu com rubéola! 


Rebolando, a lagartixa 
foi chegando atrevida: 
- O tal pintado besouro 
tem o corpo em feridas 
isso, eu sei, é mau agouro*! 
pra curar passem urtiga**! 
*Mau agouro = má sorte que vem chegando, azar. 
**Urtiga =é uma plantinha que se colocada em contato 
com o corpo da gente, dá uma coceira danada. 
Aflitos, os pais nem sabiam 
mais em quem acreditar. 
Assim, pediram à coruja 
que o viesse visitar 


Ela entrou curvada, muda, 
pondo os óculos para ver 
a doença que chegava 
judiando do bebê. 


Revirando os olhinhos, 
soltou a voz, de repente: 
- Cadê o tal do doente? 
Não vejo nenhum por aqui! 
Só o que tenho em minha frente, 
é um besouro diferente. 


E, chegando bem mais perto, 
disse assim, de peito aberto: 
- Que é isso, minha gente? 
Aqui ninguém é doente! 
O que temos neste leito, 
bem saudável, sem defeito, 
é alguém que só queria 
arranjar uma família. 

E mostrando aos presentes, 
disse serem as pintinhas, 
só bolinhas, simplesmente, 
de uma linda Joaninha! 


Aí então, despreocupados, 
os besouros festejaram 
e, com muita alegria, 
a Joaninha adotaram! 

Hoje, quem vê a família 
e do caso não sabia, 
diz que todas as bolinhas 
do corpinho da besoura 
são pedrinhas muito raras, 
preciosas, jóias caras, 
presente da boa vovó, 
que pela neta enfeitada 
tem um imenso xodó*! 


*-xodó= carinho, atenção especial. 




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